Qual o indicador mais importante para tomar decisões em fazenda de pecuária?

entre todos os números necessários para gerenciar uma propriedade de gado de corte, qual o mais importante para estar na ponta da língua na hora de tomar uma decisão importante? Em entrevista ao Giro do Boi nesta quinta, dia 26, o zootecnista Danilo Grandini, diretor global de marketing da Phibro Animal Health, foi direto ao ponto.

“A primeira coisa é saber seu custo. Tomar decisão às cegas é muito complicado. […] A gente precisa estar informado. Nós precisamos, primeiro, conhecer os nossos custos, conhecer a nossa realidade dentro da fazenda e estar informado sobre o mercado. Nunca foi tão importante estar informado, fazer sua própria opinião e tomar sua decisão”, declarou Grandini.

O executivo explicou como o conhecimento acerca dos custos de produção é importante para uma fazenda de pecuária. “Vou dar um exemplo: a gente está falando de milho nos patamares de R$ 1,50 o quilo ou R$ 80,00 o saco, que chegou até a R$ 90,00. O custo da arroba colocada com grão no confinamento não ultrapassa R$ 170,00. Então mesmo com os custos explodindo, ela está em R$ 170,00 para uma arroba que a gente vai vender a R$ 275,00. Então nós estamos falando de R$ 100,00 por arroba de lucro e isso colocando no sistema mais intensivo nosso. Então eu não me assusto! O problema é nós conhecermos o quanto custa produzir e aí, obviamente, eu começo a tomar decisões mais claras”, justificou.

Grandini comentou o que formou, em sua opinião, o contexto do mercado atual da pecuária de corte no Brasil. “Nós estamos vivendo, na verdade, duas pandemias. Uma a gente acabou esquecendo, que foi o que originou a alta de preços da pecuária nossa ao final de 2019, que era a pandemia da febre suína africana, que exterminou em 72% o número de matrizes suínas da China. Então, de certa forma, o que aconteceu com a pandemia humana (covid-19) foi a aceleração dessa disrupção dos preços e de tudo que a gente está vendo, que nos pegou um pouco de surpresa”, lembrou.

O zootecnista disse que estar informado sobre os fatores ajuda o produtor a não tomar sustos ao observar, por exemplo, custos de produção em alta. “Mas passada essa surpresa, o valor do boi nunca esteve tão alto na história […] A lição é a seguinte […]: a maneira com que o produtor produz tem que ter mais relevância na fazenda. E hoje a distância entre o valor do custo produzido e o valor do preço vendido é enorme. Eu acho que isso está trazendo uma discussão muito positiva para o jeito que nós produzimos. Está mais claro para o produtor que ele tem que produzir mais e ele tem que produzir mais rápido. A diferença do custo de produção para o preço de venda está enorme hoje, mesmo considerando os preços atuais de milho”, salientou.

Mas para Grandini, já passou a pior fase dos sustos ou das surpresas para o pecuarista brasileiro. “O grande susto nós já passamos. Esse reposicionamento de preços que ocorreu, até onde vai o patamar do boi, até onde o mercado vai ser comprador, essa surpresa já passou, ou já deveria ter passado. Agora a gente começa a tomar decisões em relação ao próximo ano, que, na minha opinião, não deve ser tão diferente desse ano”, projetou.

Na sequência, o executivo explicou a importância, dentro desta configuração de mercado, de o produtor acelerar seu ciclo de produção. “Porque nós não sabemos o que vai acontecer daqui três ou quatro anos, então eu não posso ter um inventário num custo alto como se tem hoje para vender a um preço desconhecido. A gente tem que trabalhar no preço conhecido. A gente tem um horizonte de preço que vai mais ou menos seis meses à frente, um pouco mais, que é o que a bolsa nos dá. Então mesmo que o pecuarista não utilize a bolsa para poder fechar negócios, ele precisa usá-la como referência e aí tomar as decisões. Então eu acho que, na minha opinião, 2021, do ponto de vista de surpresa, (o cenário) está mais claro (do que em 2020) porque eu já sei onde estou. O que eu preciso agora é ser bom no que eu faço”, reforçou.

Grandini ilustrou como o produtor pode transformar sua margem controlando fatores dentro de sua porteira. “Se eu melhorar 5%, 6% ou 7% de eficiência, o que eu consigo através de manejo, dietas melhores, eu consigo melhorar a eficiência de conversão e eu já salvo praticamente R$ 50,00 ou R$ 60,00 (de custo) por arroba. Então a gente tem que começar a desvincular o pensamento só do ágio e também olhar para dentro da fazenda e ver o que eu consigo fazer melhor. Eu acho que 2021 vai ser o ano de a gente começar a fazer as coisas, fazer as coisas certas para poder passar por esse ágio que está nos assustando agora”, frisou.

O zootecnista destacou que um dos objetivos de uma série de webinários promovidos pela Phibro mostrando realidades da pecuária de corte em outros países é justamente manter o pecuarista brasileiro informado e com boa perspectiva. “Confrontar as realidades. Para o Brasil, é muito importante entendermos como a pecuária é feita lá fora. Nosso modelo é muito único, é com base a pasto, chove muito aqui, mas a gente tem que incorporar algumas tecnologias que, lá fora, já foram incorporadas. Algumas métricas que a gente não usa aqui”, analisou.

“Exemplo: desfrute de carcaça por inventário. Se eu dividir a quantidade de carcaças que o Brasil abate anualmente pelo inventário dele, então vamos dividir por 12 milhões de toneladas praticamente por 217 milhões de animais, vamos chegar à conta mais ou menos de 50 kg de carcaça por cabeça existente no inventário do Brasil. Na Argentina é 56, e veja que eles abatem uma carcaça muito leve, os animais são abatidos com 350, 340 kg lá. Então se você for para Austrália e África do Sul, é de 70 kg de carcaça por inventário. Se você for para o México e Estados Unidos, é 120 kg. A gente precisa aprender a girar o nosso estoque”, constatou.

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