MLA: Confira relatório sobre indústria brasileira de carne bovina

Este ano foi desafiador para a indústria brasileira de carne bovina. Houve um crescimento econômico muito lento, um acesso restrito ao mercado, o escândalo da “carne fraca” no final de março e, mais recentemente, a corrupção envolvendo a JBS, a maior empresa de processamento de carne do país.

Após dois anos de recessão, a economia brasileira melhorou levemente e espera um crescimento modesto em 2018. Espera-se que o consumo de carne doméstica se recupere à medida que a economia melhore e os preços comecem a cair. Entretanto, prevê-se que o consumo aumente em um ritmo mais lento em comparação com o crescimento da produção, com mais carne provavelmente exportada.

O rebanho bovino brasileiro parece estar saindo de sua fase de retenção, com o abate de fêmeas registrando um aumento este ano e a produção deverá aumentar.

Principais implicações para a Austrália

O aumento da produção e o crescimento limitado do consumo interno brasileiro provavelmente significarão maiores exportações de carne bovina, criando uma maior concorrência em alguns mercados de exportação da Austrália, como China, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Com a Rússia e a Venezuela reduzindo sua participação nas exportações do Brasil, a carne bovina brasileira encontrou novos mercados no Oriente Médio e na Ásia nos últimos anos, e é esperado um maior foco nessas regiões.

O acesso ao mercado e o status sanitário continuam sendo os principais obstáculos do Brasil para aumentar a sua presença nos mercados globais, particularmente nos principais mercados de exportação da Austrália, onde atualmente o Brasil não tem acesso, como Japão, Coréia, EUA e Indonésia.

Além do acesso ao mercado, a competitividade global da carne bovina brasileira no futuro próximo continuará a ser impulsionada pelos movimentos do Real brasileiro (que não se espera que tenham uma força considerável em um futuro próximo).

A indústria brasileira de carne bovina continua focada em melhorar sua produtividade, status sanitário e qualidade de consumo. No entanto, a atual situação incerta política e econômica poderia comprometer novos investimentos na indústria da carne bovina.

Ainda não se sabe como a indústria será afetada pelo escândalo de corrupção envolvendo a JBS, a maior empresa de carnes do mundo. No Brasil especificamente, a JBS conta, em média, com 40% do abate total a cada ano.

Economia

Após dois anos consecutivos de recessão, as perspectivas para a economia brasileira em 2017 são de um otimismo cauteloso. As previsões apontam para melhorias nos principais parâmetros macroeconômicos: crescimento do produto interno bruto real (PIB), menor inflação, pequena recuperação do desemprego e menor endividamento dos consumidores.

A recuperação modesta da economia brasileira nos próximos trimestres provavelmente será impulsionada por uma recuperação cíclica do consumo. No entanto, os dias de crescimento fácil (visto nos anos 2000 – com crescimento do PIB em média de 4,4% entre 2004 e 2010) parecem ter acabado para o Brasil no médio prazo.

O Real brasileiro permaneceu relativamente firme em 2017, com uma média de US$ 0,31 para o período de janeiro a agosto. Este é um aumento de 10,5% ano-a-ano, já que a economia começou a mostrar alguns sinais de recuperação. Apesar da revalorização do Real neste ano, é improvável um fortalecimento considerável no curto prazo, dado o ambiente político incerto e as eleições gerais de 2018.

Nos últimos três anos, o Brasil sofreu um escândalo de corrupção envolvendo políticos e grandes empresas privadas, deixando o país com crises políticas e crescente desconfiança pública.

No final de março, a indústria de carne brasileira se envolveu em um escândalo de carne amplamente divulgado, conhecido como “carne fraca”. Alguns dos maiores processadores de carne do país foram acusados de subornar inspetores de saúde para que esses desconsiderassem práticas ilegais. Essas incluíam a re-embalagem da carne bovina após a data de validade, fazendo presunto de peru com soja em vez de aves reais e uso excessivo de aditivos potencialmente nocivos.

Os mercados externos responderam rapidamente ao escândalo, com inúmeros parceiros comerciais emitindo restrições temporárias de importação ou aumento da inspeção do produto – veja mais na seção de acesso ao mercado.

Rebanho bovino, abates e produção de carne bovina

O rebanho bovino brasileiro passou por uma fase de reconstrução, com os números crescendo desde 2013 e atingindo aproximadamente 215 milhões de cabeças em 2015 (IBGE). O Brasil mantém o segundo maior rebanho de gado do mundo, apenas atrás da Índia. No entanto, o período de retenção está terminando e o crescimento da produção deverá retornar.

O abate de bovinos brasileiros totalizou 14,7 milhões de cabeças no primeiro semestre de 2017, com um declínio considerável em abril, como resultado do escândalo da “carne fraca”. No entanto, uma recuperação no abate foi registrada em maio e junho.

O abate de fêmeas aumentou no primeiro semestre de 2017, representando 42,6% do abate total, em comparação com 40,7% em 2016, confirmando o fim da fase de retenção.

A produção de carne bovina totalizou 3,6 milhões de toneladas por ano no mesmo período, com queda de 2% em relação ao ano anterior, refletindo a maior proporção de fêmeas abatidas (pesos de carcaça mais leves), já que o número total de abates permaneceu relativamente estável para o período (IBGE).

Prevê-se que a produção de carne bovina brasileira aumente em média 2,6% ao ano até 2021, para 10,8 milhões de toneladas. Espera-se que o crescimento seja impulsionado pela genética animal melhorada, melhor gerenciamento de forragens, maior disponibilidade de gado para abate e forte demanda internacional.

O sistema de produção brasileiro é, em grande parte, baseado em pastagens, impulsionado pela vasta área terrestre com boas condições de pastagem, que podem ser alavancadas para criar gado a custos mais baixos em comparação com os principais concorrentes. O sistema de pastagem permanecerá central para o modelo de produção brasileiro; no entanto, o número de gado em confinamento no Brasil aumentou, atingindo 5,19 milhões de cabeças em 2015 e representando 13% do abate total de gado. Na próxima década, espera-se que a participação de animais terminados em confinamentos aumentará para 20% (GIRA).

Preços de bovinos e carne bovina

Em termos de Reais brasileiros, os preços do gado diminuíram em 11% no período de janeiro a agosto de 2017, com o indicador de novilho de São Paulo com uma média de R$ 4,56 por kg de peso vivo (aproximadamente US$ 1,44 kg de peso vivo). A revalorização do Real brasileiro manteve os preços em dólares norte-americanos firmes em relação ao mesmo período do ano anterior.

De acordo com o IPCA/IBGE (Índice de Preços ao Consumidor – indicador oficial da inflação brasileira), os preços de todos os cortes de carne pagos pelos consumidores no primeiro semestre de 2017 foram inferiores à taxa geral de inflação, com alcatra e contrafilé de 5% e 5,6%, respectivamente. Os preços da carne de frango também registraram queda de 2% no mesmo período, enquanto os preços da carne suína registaram um pequeno aumento de 1%.

Consumo e consumidores

O Brasil está experimentando uma desaceleração em sua taxa de crescimento populacional, com o envelhecimento da população e a rápida transição demográfica. Prevê-se que a população tenha um crescimento médio de 0,6% na taxa de crescimento anual composta na próxima década. Isto tem implicações importantes para o consumo de alimentos e bebidas. Embora a população brasileira seja grande, o crescimento mais lento está reduzindo o alcance de potenciais novos clientes.

O consumo de carne no Brasil é muito culturalmente enraizado e, apesar do aumento de preços, o consumo geral manteve-se relativamente estável desde 2012, com exceção da carne bovina.

O consumo de carne bovina diminuiu nos últimos anos, em grande parte devido ao aumento dos preços em comparação à carne de frango e suína, e, até certo ponto, preocupações com a qualidade da carne. Apesar da previsão de crescimento econômico e populacional mais fraca para a próxima década em relação ao nível anterior à crise, espera-se que o consumo de carne aumente no Brasil, com aves e carne suína sendo os principais direcionadores, enquanto o consumo de carne bovina provavelmente se recuperará levemente. Como o preço continuará sendo um aspecto importante na compra de carne, o preço premium considerável da carne bovina deverá limitar o potencial crescimento do consumo.

Exportações

Carne bovina

O Brasil é um importante exportador de carne bovina ao lado da Índia, Austrália e EUA.

À medida que as taxas de produção deverão aumentar mais rapidamente do que o consumo doméstico, as exportações de carne bovina deverão aumentar e totalizar 1,7 milhão de toneladas em 2021, com uma demanda maior esperada da Ásia e do Oriente Médio.

As exportações brasileiras de carne bovina atualmente representam 20% de sua produção total e deverá aumentar nos próximos anos.

Os principais mercados de exportação de carne bovina brasileira são Hong Kong, China e Rússia, com a carne bovina congelada sem osso responsável por quase 100% dos envios para esses mercados.

No geral, as exportações brasileiras de carne bovina diminuíram em 11% em 2016-17 com relação ao ano anterior, para 1,02 milhão de toneladas e foram avaliadas em US$ 4,2 bilhões FOB. Apesar do declínio, as vendas para Irã, Chile, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Filipinas e Cingapura aumentaram durante o período.

A Rússia, a Venezuela e o Egito representaram anteriormente uma grande proporção das exportações brasileiras de carne bovina, mas diminuíram consideravelmente nos últimos anos, de 40% das exportações totais em 2014-15 para 24% em 2016-17. A alta dependência dos preços do petróleo pela Rússia e Venezuela afetou significativamente as importações, que diminuíram progressivamente.

A economia russa deverá continuar se recuperando nos próximos anos, mas permanecerá lenta em relação ao nível anterior à crise. Isso pode melhorar ligeiramente a demanda de carne bovina brasileira; no entanto, espera-se que os volumes estejam abaixo do que foram na última década.

Com a Rússia e a Venezuela reduzindo sua participação no mercado das exportações brasileiras de carne bovina e melhorando o acesso ao mercado na Ásia e no Oriente Médio, a carne brasileira estabeleceu novos destinos de exportação nos últimos dois anos. Além do aumento das exportações para Hong Kong, China e Egito, o Brasil recuperou participação de mercado na Arábia Saudita e no Irã e aumentou as vendas para mercados “não tradicionais”, como Filipinas e Cingapura.

A China se tornou o segundo maior destino da carne bovina brasileira, com 100% dos volumes sendo de produtos congelados, satisfazendo a demanda por carne bovina commodity.

Desde a recuperação do acesso ao mercado na Arábia Saudita (final de 2015), as exportações brasileiras de carne bovina cresceram consistentemente. Ao contrário da China, as exportações para a Arábia Saudita incluem produtos resfriados (23%) e congelados (77%).

Embora as exportações de carne fresca representem uma pequena parcela das exportações totais (13%), elas aumentaram nos últimos dois anos, com o Chile, a UE e o Oriente Médio agora os principais destinos.

Gado vivo

As exportações brasileiras de gado vivo diminuíram substancialmente nos últimos anos, principalmente devido à sua alta dependência no mercado venezuelano, que representou, em média, 80% do total de exportações de gado vivo.

As vendas caíram de 817.297 cabeças em 2013-14 para 281.116 em 2016-17 (MDIC/Secex).

Assim como as exportações de carne bovina, os embarques de gado vivo também aumentaram para outros mercados como a Turquia, o Líbano e o Egito no ano fiscal passado, mas ainda estão longe dos volumes enviados para a Venezuela.

A economia da Venezuela deverá permanecer em profunda recessão em 2017, com as exportações brasileiras de carne bovina e gado vivo tendendo a diminuir ainda mais.

Acesso a mercados

Atualmente, o Brasil não tem acesso ao Japão, aos EUA (para a carne fresca), à Coréia e à Indonésia.

Em junho de 2017, os EUA anunciaram a suspensão de todas as importações de carne bovina fresca e congelada do Brasil à medida que o produto não passou nos testes de segurança alimentar. A decisão permanecerá em vigor até que sejam tomadas medidas corretivas satisfatórias.

Atualmente, o Brasil tem 16 plantas aprovadas para fornecer carne bovina para a China e exportar carne exclusivamente congelada. O governo brasileiro continua trabalhando em estreita colaboração com as autoridades chinesas para aumentar o número de plantas aprovadas.

O Acordo de Livre Comércio UE-Mercosul* está sendo negociado, no entanto, o acesso ao mercado de produtos agrícolas e preocupações com a segurança alimentar ainda permanecem questões pendentes. Os exportadores europeus também estão preocupados com o aumento do acesso de produtos sensíveis, como carne bovina e de frango, já que o Mercosul já é um grande exportador de commodities agrícolas para a UE. Reduzir ou remover as tarifas provavelmente afetará negativamente os produtores da UE e aumentará a concorrência para a Austrália e os EUA.

Os mercados externos responderam rapidamente ao escândalo de carne brasileiro no final de março, com inúmeros parceiros comerciais emitindo restrições de importação temporárias ou inspeção de produtos aumentada. China, Chile, Hong Kong, Egito e Arábia Saudita estiveram entre alguns dos maiores destinos de exportação do Brasil que impuseram uma suspensão das importações. Embora as vendas de carne tenham sido comprometidas em abril, elas aumentaram progressivamente nos últimos quatro meses, com a maioria dos países mencionados acima agora aberto para negócios.

O governo da Indonésia decidiu recentemente reavaliar a possibilidade de importar bovinos e carne bovina brasileiros. Caso o Brasil tenha acesso ao mercado indonésio, as vendas de carne bovina deverão ser principalmente compostas de produtos congelados sem osso.

O governo brasileiro criou um programa em 2016 (Programa de Acesso a Mercados do Agronegócio Brasileiro) para melhorar o acesso ao mercado para todos os produtos agrícolas e visa a Ásia (especialmente a China) como um mercado-chave. O programa também foca em agregar valor aos produtos, destacando a qualidade do Brasil e sistemas de produção sustentável.

Previsão de longo prazo

A produção bovina brasileira deverá aumentar em média em 2,6% ao ano até 2021, para 10,8 milhões de toneladas.

O consumo deverá crescer em 1,2% ao ano até 2021, para 8,3 toneladas (BMI).

À medida que a produção deverá aumentar mais rapidamente do que o consumo doméstico, as exportações de carne bovina também deverão aumentar nos próximos anos, com maior demanda esperada da Ásia e do Oriente Médio.

Melhorar o acesso ao mercado continuará sendo uma área chave para a indústria brasileira de carne bovina, assim como o status sanitário e a qualidade alimentar.

A perspectiva de longo prazo pode ser potencialmente afetada pelo recente escândalo de corrupção envolvendo a JBS, já que ainda não se sabe como refletirá sobre a indústria brasileira de carne bovina.

 

Fonte: Relatório elaborado pelo Meat and Livestock Australia (MLA) em outubro de 2017, traduzido e adaptado pela Equipe BeefPoint.

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